6 de abril de 2014

Primavera privada

Às vezes bastava chegar à rua e ter em ti a minha casa, a minha janela. O número de porta onde me encontram. Por vezes penso que subiria mais uma vez essa rua se no final dela tivesse em ti um telhado, uma caixa correio e o tal jardim de que falávamos, onde os limões mais amarelos do mundo cresceriam, cairiam e apodreceriam sem o tempo de nos preocuparmos com isso.
Quando, súbita, me chegas à memória, com essa Primavera do teu desabrochar, do teu florir, do teu rebentar de vento quente sinto-me glorioso e toda a orquestra do meu organismo se organiza para te amar.
Para crer que tu és real e que o teu sorriso não é somente o resultado de uma noite que ainda dura, tenho de olhar bem nos teus olhos, naquela forma alucinada e séria com que por vezes te olho, por não estar certo de estar prevista a existência desse matizado de cores dos teus olhos, que ficam claros e escuros com o abrir e cerrar do sorriso que só tu tens. 
É-me difícil acreditar em ti, como vês. Mas basta que me abras a porta da nossa casa, das nossas janelas, do nosso jardim. Basta que atendas o telefone e abras as nossas cartas. Basta que os limões continuem a cair e a alegremente se deixarem ignorar.
Basta-me que sorrias.

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