4 de julho de 2010

Como as sardinhas

Era um homem largo, portentoso. Com o olhar azul aberto como um horizonte e uma malinha que chocalhava de cada vez que se ajeitava no banco do autocarro para permitir que uma das madames se sentasse. Não que fosse necessário mas o boné divulgava a todos quantos quisessem reparar que estávamos na presença de um homem do mar. NRP Corte Real e uma figurinha do navio de guerra português bordados na frente do boné.
As miúdas demasiado excitadas, mais novas que a sua idade real, que vinham da praia ainda a cheirar a creme e areia a usar roupas que no tempo de juventude do nosso nobre marinheiro seriam proibidas. Ele com os olhos nelas, parecidas com as dezenas de sereias que deixou por aí, na costa africana, mulatas e pretas, belas e a cheirar a suor e praia.
Às catraias de hoje ele comia-as, perdão, bebia-as com os olhos. Mais suculentas que o punhado de peixes que trazia no balde tapado. Só aquelas três moças deixavam-no mais vergado do que o dia inteiro de faina rochosa ao sol. Nada incomoda mais um homem que os pedaços de juventude que deixam por aí e aos marinheiros, em cada levantar de ancora, é um naco que lhes sai e fica enterrado na areia do fundo do mar.
Só aquelas três moças foram como três tiros de morteiro da fragata que o nosso herói apanhou naqueles olhos tão largos e tão cor de mar. Elas foram e ficou a serenidade. Haverá certamente mais marés e sereias nunca são boas conselheiras.