19 de dezembro de 2010

Só tu

É extremamente difícil seguir a minha vida a ouvir a tua voz a dizer palavras. Imaginar como seriam certas expressões ditas na tua doçura. Não ter à despedida a despedida com o meu nome a acentuar o carinho.
É morrer cinco vezes ao dia ter agora de nunca mais dizer olá aos teus caracois pela manhã, deixar sós os teus olhos amendoados e partir dessa cama (onde nunca me deitei), da mesa (que nunca vi) sem pequeno almoço e do cabide da porta (onde os meus casacos pesados nunca repousaram) sem a missiva que evidentemente deixaria onde te diria
-Só tu..
se alguma vez tivesse oportunidade de te deixar para aí cartas assim.
Ando preocupado comigo mas não espero que te preocupes tu porque, em boa verdade, poucas vezes fora das necessárias trocas fortuítas de importâncias deves ter pensado em mim. Pouco sós devem estar neste momentos os teus olhos, talvez fechados ainda por umas palpebras que alguém beijou antes de adormeceres. Ou então estás acordada a ver a pessoa que te preenche a cama, a tomar o vosso pequeno almoço e lá ao fundo, no cabide, os casacos e bonés dele.
Um dia disseste-me
-Só tu.
e eu fiquei feliz por achares que naquele momento e daquela forma só eu.
Agora eu, só, me deixo aqui sem medo de ti nem dos teus cabelos, nu se pudesse à frente dos teus olhos tão grandes e tão redondos e tão amendoados. A passar ou parado. Podia até ser num daqueles momentos em que te apanho a olhar para mim.
Um dia poderia ser que te apanhasse esse olhar e to obrigasse a fixar em mim com uma careta ou um carinho. Poderia fechar-te as pálpebras com um beijo e dizer-te
-Só tu...