1 de abril de 2012

O cúmulo

Tu que és de Direito, que estudaste leis e códigos e propostas, entendes bem que haja um cúmulo, um ponto limite em que não há, não pode haver, não é permitido que exista mais pena e penitência.
Pois é assim o meu amor, um crime que atingiu o seu cúmulo jurídico e pelo qual não peno nem mais uma música ou mais uma lágrima. Cá me aguento, muito obrigado, neste meu cúmulo afectivo que por não ter apelo ou saída precária me vai prendendo a ti.
Passei todo o meu tempo habituado a dias de sol e ventos quentes, a ter sorte e a ver a minha credibilidade recompensada por deliberações favoráveis. Podes então entender a minha surpresa quando as chuvas vieram contigo e o azar, obliquo, caiu por aqui com o estrondo de um batimento cardíaco a mais e os passos que tão longos e desaconselhados doíam sem sangrar.
Mas como te disse, o meu cúmulo foi atingido, perdeu-se na última instância a possibilidade de recurso e vou impor a ordem na sala até que não precise de, nas paredes desta cela que tu me mostraste, acrescentar mais risquinhos às dezenas de dias que já passei agarrado a esta liberdade condicional.