27 de fevereiro de 2011

Um penedo

Se eu te der um pedregulho constrois, por favor, um castelo em cima dele? Terás a facilidade em perceber, através desse teu feitio de raínha, que sem uma base sólida o teu castelo depressa volta à sua condição de areia desagregada?
Repara, eu sou só um pedreiro, ocasionalmente trabalho em ferro mas sou essencialmente pedreiro. Tive até, admito, de procurar pedregulho no dicionário para perceber se não estava a incorrer em erro. Também procurei incorrer no dicionário.
Queria só concordar com o teu brilho e apontar uma coisa qualquer ao céu, pôr-te lá em cima e todas as noites dizer-te que a solução de isolamento térmico era excelente e que podias dormir só com um lençol.
Vá, diz-me, se eu te der um pedregulho montas todo o teu castelo em cima de mim? Alertas-me das fugas e das datas em que teremos que renovar a tua pintura, os teus caixilhos?
Em troca peço só que me deixes espreitar para o que se esconde por detrás das tuas ameias, que desguarneças as seteiras e que rendas os guardas definitivamente. Vem daí. O tempo é curto e com fundações sólidas eu te deixo manter as inúteis muralhas.
Se eu for o teu pedregulho prometes forrar-me desse musgo vivo que se arrasta nos teus olhos?