5 de setembro de 2010

Mais ou menos

À memória da Susana, julgo ser esse o nome dela, que tinha os lábios mais botticellianos e os dentes mais alinhados do meu grupo de conhecimentos falo dos infelizes. Dedico-o à memória dela não por ela ter morrido literalmente, julgo isso não ter acontecido, mas sim porque uma vez casada com um idiota a mulher morre.
É a maior aflição do homem sensível a excessiva contemplação das desgraças da vida e como as mãos, braços e pernas são pequenas demais para as resolver. Nos homens inteligentes a maior desgraça é não haver tempo para amar e ler, amar e ver um filme, amar e comer uma boa refeição. Um homem inteligente ou é bom numa coisa ou noutra. A consciência de ser médio em ambas resulta em aflições várias.
Estas são as desculpas dos Homens a sério. Os sensíveis e inteligentes.
Um bronco não tem desculpa para se sentir miserável e muito menos tem o direito de reclamar para si um par, feminino ou masculino, para infernizar e menorizar de forma a se sentir melhor. A Susana, que a terra lhe seja leve como hélio, deixou-se morrer coitada. Conheceu o seu carrasco num dia qualquer e deixou-se anilhar.
Coitada.
Como escreveu Adam Langer, em todos os bares de toda as cidades de todos os países em todos os continentes desde o início dos tempos há um idiota deprimido que traz agarrada ao seu braço uma mulher impressionante e delicada e todo o bar pára a olhar para o casal a imaginar como uma mulher daquelas foi acabar com um idiota daqueles.
Como foste parar aos braços desse idiota Susana, se é mesmo esse o teu nome, como?
De qualquer das formas não me constou que o restaurante onde te vi tivesse parado, nem ninguém se apiedou de ti e te resgatou. Talvez por te ver mais ou menos feliz e mais ou menos sorridente e hoje esse ser a média aceite. Mais ou menos amor e mais ou menos felicidade.
Essa que é a aflição do homem romântico: O mais ou menos coração, mais ou menos emoção. Mais ou menos fidelidade.