7 de julho de 2013

Abandono do oxigénio

Ao enumerar o que acho serem as razões para te amar, nesta tua exigência impossível de me pedires para colocar em palavras os porquês, os quantos e os comos do meu amor por ti pensei fazer uma lista com tópicos e rabiscos. Quando acabassem as palavras entrariam os desenhos em auxílio e acho que era capaz de te satisfazer durante uns tempos até que um dia, mais frio ou mais quente, sei lá, nunca entendi porque me perguntas estas coisas, me voltarias a questionar sobre as coisas que não se explicam nem quantificam. Não se ama muito nem pouco, ama-se.
Ainda assim, tens uma certa razão, as coisas envelhecem, julgo que o coração, como a nossa cara, ganha rugas de expressão e tu já me colocaste cá umas tantas de felicidade e apagaste as poucas tristes que tinha. Fico descansado por saber que só tenho de me preocupar com o colesterol e com as arritmias congénitas porque de falta de amor o meu coração não se fina de certeza. Por isso em verdade te digo que vivemos esta nossa eterna juventude de sermos belos e calorosos mesmo nas ausências que se revestem de quilates de saudade para serem trocados nessa transacção mais carinhosa dos abraços nos regressos.
Sabes que andei a ler os rótulos dos teus perfumes, do sabonete que usas, do teu champô e penso que posso, com toda a segurança, trocar o oxigénio por todos esses aromas que andam contigo. Deixo de respirar ar atmosférico e passo a respirar o ar que te rodeia, nessas pautas de flores e açúcares que a tua pele fermenta para me alcoolizar da forma menos invasiva que conheço.