25 de agosto de 2013

O dispensável

Da ausência e do silêncio nunca nos fica muito a dizer. Se houvesse algo a comunicar teria sido feito em tempo oportuno e não se aguardava pelos regressos. Então de ti levo este deserto de tudo, esta aridez estéril, este passar por aqui com tanta frescura e flores, seres esta primavera que tanto esperava mas que este ano não passa por cá, como uma andorinha que se afasta do grupo e vai nidificar numa terra só sua.
Se um dia voltares acho que já não existe por cá este país de peito aberto, sou raso como uma praia e dizem que o nível das águas anda a subir e o mar conquista terreno todos os anos aos países como eu. Tu, de montanhas e picos feita, pareces imune às águas. Eu, arenoso do tal deserto que ficou, vou permeando o sal, tão amolecido já do duro hábito de me desmoronar em lágrimas só de te imaginar por cá, tão perto mas sem mim.