28 de agosto de 2011

Suficiente mais

Não gosto de ti o suficiente para escrever sobre ti. Demorou a perceber isto. Demorou qualquer coisa como três dias, interrompidos por algum trabalho e chamadas da família, a perceber que aquela página de meu bloquinho Moleskine (sou antiquado e vaidoso, duas coisas que não queres ver juntas) não iria ter nada de palavras ou desenhos. Poesia nem vê-la.
Estamos a uma vida inteira de distância e o tempo que é tão relativo anda a passar paralelamente por nós. Só que pronto, de cada vez que eu paro num apeadeiro tu já estás na estação seguinte e partes antes que eu, como se fosse um turista mais distraído e cheio de malas, chegue a tempo.
Mas é como te digo, não me fazes tremer o suficiente para me dares vontade de te falar sequer à tarde, quando em lanches tantos nos cruzamos nas esplanadas que têm sempre mais uma mesa, mais duas cadeiras e mais dois copos que podiam ser nossos se tivéssemos consideração suficiente um pelo outro para, como as pessoas normais, nos sentarmos a conversar sem óculos de sol. Com sorrisos lubrificados por refrescos e pausas admiradas.
Mas vá, comigo pensar alto dá sempre nisto da escrita, não tenho espírito para falar sozinho tal como não tenho espírito para falar contigo. E não, não gosto de ti o suficiente para escrever sobre ti.