Da única vez em que estive internado no Hospital havia a Isabel.
Entrou na minha segunda noite por causa de uma doença qualquer que já não sei qual era. Sempre com um sorriso nos lábios mesmo quando dormia. No dia seguinte continuava o sorriso mas desta vez desperto, fugidio com o meu olhar como se os meus olhos fossem pés que faziam barulhos no chão do bosque e ela uma borboleta ou um colibri.
Começamos a falar através de um oceano de faz-de-conta recriado numa folha de linhas com quadriculas desenhadas à mão. Nós ali presos nas camas numa enfermaria com janelas que davam para gabinetes mas a navegar furiosamente e a trocar tiros a querer afundar porta-aviões e submarinos.
E foi essa marinheira que me mostrou que pronto, era aquilo que eu queria para a vida toda.
À noite uma lição de cumplicidade depois da batalha. Sempre que uma enfermeira passava, com os passos pesados de um soldado, ela que agora era o nosso inimigo, calavamo-nos com um sorriso parvo para depois recomeçar a conversa no ponto onde ficou ou num novo lugar. Ela até fechava os olhos para ser credível. Eu não conseguia. Observava-a como na noite anterior, agora com ainda mais fascínio.
E assim se passaram 3 ou 4 dias, já não sei, entre batalhas no mar e nos puzzles com os apitos da máquina de soro dela que me afligia porque via series de médicos e apitos nunca eram bom agoiro.
Passados anos ainda me lembro dela e como fiquei deprimido e choroso na tarde em que lhe deram alta
- Agora que estavas a ficar melhor é que tens dores?
e eu com vergonha não dizia a verdade e deixava-me chorar enquanto a enfermeira me fazia massagens com uma daquelas pomadas frias ao toque. No dia seguinte saí e nunca mais entrei na enfermaria ou estive internado.
Agora, como nestes últimos anos, tenho por ela o mesmo fascínio reservado que se deve ter com os famosos que admiramos. Uma enorme curiosidade de conversar e saber o que faz mas medo que, ao chegar ao encontro, tudo não passe de uma ilusão e que a imagem que temos da pessoa seja falsa ou só tivesse sido verdadeira naquela altura de eterna novidade.
Sendo assim tenho-a cá dentro como batalhadora furiosa e conversadora curiosa de face luminosa de dia e sorriso lunar à noite. A pequena Isabel que apitava de duas em duas horas e que me fez, pela primeira vez, doer de amor.
Entrou na minha segunda noite por causa de uma doença qualquer que já não sei qual era. Sempre com um sorriso nos lábios mesmo quando dormia. No dia seguinte continuava o sorriso mas desta vez desperto, fugidio com o meu olhar como se os meus olhos fossem pés que faziam barulhos no chão do bosque e ela uma borboleta ou um colibri.
Começamos a falar através de um oceano de faz-de-conta recriado numa folha de linhas com quadriculas desenhadas à mão. Nós ali presos nas camas numa enfermaria com janelas que davam para gabinetes mas a navegar furiosamente e a trocar tiros a querer afundar porta-aviões e submarinos.
E foi essa marinheira que me mostrou que pronto, era aquilo que eu queria para a vida toda.
À noite uma lição de cumplicidade depois da batalha. Sempre que uma enfermeira passava, com os passos pesados de um soldado, ela que agora era o nosso inimigo, calavamo-nos com um sorriso parvo para depois recomeçar a conversa no ponto onde ficou ou num novo lugar. Ela até fechava os olhos para ser credível. Eu não conseguia. Observava-a como na noite anterior, agora com ainda mais fascínio.
E assim se passaram 3 ou 4 dias, já não sei, entre batalhas no mar e nos puzzles com os apitos da máquina de soro dela que me afligia porque via series de médicos e apitos nunca eram bom agoiro.
Passados anos ainda me lembro dela e como fiquei deprimido e choroso na tarde em que lhe deram alta
- Agora que estavas a ficar melhor é que tens dores?
e eu com vergonha não dizia a verdade e deixava-me chorar enquanto a enfermeira me fazia massagens com uma daquelas pomadas frias ao toque. No dia seguinte saí e nunca mais entrei na enfermaria ou estive internado.
Agora, como nestes últimos anos, tenho por ela o mesmo fascínio reservado que se deve ter com os famosos que admiramos. Uma enorme curiosidade de conversar e saber o que faz mas medo que, ao chegar ao encontro, tudo não passe de uma ilusão e que a imagem que temos da pessoa seja falsa ou só tivesse sido verdadeira naquela altura de eterna novidade.
Sendo assim tenho-a cá dentro como batalhadora furiosa e conversadora curiosa de face luminosa de dia e sorriso lunar à noite. A pequena Isabel que apitava de duas em duas horas e que me fez, pela primeira vez, doer de amor.