5 de julho de 2009

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Esta semana, no dia 2 de Julho, passou-se uma data que passa (passando o pleonasmo de tantos passares e passados) ao lado da maioria das pessoas. Este é o centésimo octagésimo terceiro dia do ano. É o meio do ano.
Há para trás cento e oitenta e dois dias e restam outros cento e oitenta e dois para diante. São estas datas que nos obrigam a parar e reflectir sobre o que se passou e quantas das resoluções de ano novo já nos encarregamos de resolver.
A nossa vida, felizmente infelizmente felizmente infelizmente não tem backups como os que fazemos antes de formatar o disco do computador. Fazemos borrada e a nossa vida vai para sítio incerto e não há técnico de informática que nos devolva o que perdemos. Este meu meio ano foi para parte incerta (que é onde está sempre na realidade) no plano afectivo e vai caminhando para a incerteza no plano profissional. Em ambos não sinto a necessidade de backups embora um fiozinho de ligação à terra, a haver, daria uma segurança que conforta.
Grande parte deste meio ano foi passada num leve sofrimento, que não explicarei porque nunca se sofre sozinho, sempre interceptado por momentos de felicidade e sorrisos cumplices que se sobrepunham sempre aos tempos sombrios. Na vida, como nos computadores, um reiniciar ainda resolve muitos problemas e não, não é preciso ser à bruta. Tendo paciência a nossa janela reinicia sem que uma brisa deixe de entrar e a anterior brisa, de aroma diferente, esvoaça para outra janela sem partir os nossos vidros.
Agora vive-se a sorrir, a passear, a comer pêlos de gata e a ressonar (nada que não se resolva com uma cotovelada, mais uma vez, como com os computadores) sem peso nos ombros mas imensa curiosidade assustada de ver se a tempestade deve ser agarrada ou não.
Profissionalmente continuo nesta carreira de cantor de rua figurado. Canto com talento e esforço mas para já nenhum olheiro das editoras se aproximou e como sou orgulhoso, arrogante e sei o que valho o chapéu das esmolas fica na cabeça mesmo que os transeuntes fiquem tontos à procura de onde meter a moedinha como se eu fosse uma máquina de café.
O meu meio ano passou rápido mas deixou marcas lentas, como estrias que ficam depois de uma dieta milagreira. E as estrias, como as rugas, sempre me pareceram mais sinais de coragem e viagem do que imperfeições a combater.
E hoje, até já falta menos de metade para o final do ano.

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