19 de julho de 2009

O Cofre

Enternece a forma como as pessoas tentam ler peitos. Assim com um estetoscópio como o fazem os médicos mas com a curiosidade e perícia de um assaltante de cofres à espera do click ou lá qual é o som que os cofres fazem no seu interior para que possam dar uma olhada cá dentro.
É por isso que tantas vezes nos lançamos nos braços de outra pessoa como um deprimido crónico o faz ao psicólogo. É a salvação que vem aí e nós queremos que tudo seja simples e processado. Fácil de ler e resolver. A questão é que o nosso peito usa sempre a blindagem mais forte com fechaduras de combinação e chaves impossíveis de copiar. Quem está de fora, ainda a tentar abrir o nosso cofre, dificilmente acredita que não sabemos onde guardamos a chave. A combinação foi mudada para um código que nunca esqueceríamos mas esquecemos.
Aí entra a análise da retina. Muita gente pode saber a combinação; a chave pode ter sido roubada ou perdida mas os olhos, se forem os olhos certos, abrem o peito sem resistência.
E não abre. A portinha que chega para o coração se expor não abre e aquela pessoa que se pensava ser a salvação não é nada. É mais uma curiosa a olhar para uma porta que, incapaz de lidar com o que encontraria lá dentro, não merece que ela se abra.
Esta semana voltou a mim um forte sentimento de orgulho e felicidade, fruto de umas tantas memórias que por estarem lá muito para trás (tenho de contar anos com dedos das mãos para perceber quanto) até já se vão esquecendo. Memórias de um tempo em que a porta não abriu nem a martelo e durante o qual o conteúdo foi crescendo em brilho em vez de mirrar com a falta de ar.
E noutro dia noutro sítio, com outros olhos a tentarem sem pressa, a porta lá se abriu sem resistência. Lá dentro um coração fresco acabado de colher e espaço suficiente para outro morar confortável.

1 comentário:

  1. offtopic : de nada, já anseio pela chegada dos domingos para ler um post.

    bj*

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