12 de agosto de 2012

Parecer uma menina

Eu vivia com uma pessoa que me matava os bichos. Uma vez apareceu uma barata e ela, a pessoa que me matava os bichos, pegou nela e esmagou-a com os dedos. Foi lavá-los e ao regressar disse
-Pareces uma menina
a criticar o facto de eu ter estado uns bons trinta segundos a apontar com o chinelo sem nada fazer.
Essa mesma pessoa matou-me mais que uma vez a gripe. Quando lhe disse que achava que a gripe era imortal e que só a conseguíamos enfraquecer como nos filmes acontece com aqueles maus mesmo maus a resposta dela foi
-Pareces uma menina.
Agora que se foram todos: as baratas, as gripes, a pessoa que me matava todos estes bichos, tenho de ganhar o hábito de conviver com o bicho da saudade que não tem patas e não consta que seja contagioso mas que como os tais maus mesmo maus dos filmes não morre e apenas se ausenta durante um pouco para se fortalecer, à espreita do momento em que se pode instalar de novo ao nosso lado como uma barata gigante portadora de gripe.
E eu até pegaria no telefone e te contaria estas coisas mas já sei que a tua única resposta seria
-Deixa-te disso, pareces uma menina.