3 de outubro de 2010

Outra bebida

Tenho aqui umas tantas profanidades guardadas para te contar. Coisas que me apareceram de noite e me tiraram da cama, levantaram-me e serviram-me uma porção de leite com chocolate (não bebo uísque desde que te convidei e tu não vieste).
Não sei como é com as meninas mas, com os rapazes, das feridas nascem medalhas. No dia seguinte ao mais espampanante tombo de bicicleta vamos para a escola de calções e manga curta. O mundo fica a saber que somos valentes. Fomos, vimos e doemos.
Chorar? Isso é para bebés porque já somos meninos grandes.
Que faço eu à ferida que tu me deixaste? É que na vida adulta os rapazes tornam-se homens e esses só ganham medalhas se exibirem ao peito as feridas que espetaram nos peitos de umas tantas mulheres. Não estamos preparados para o contrário.
Tentei inventar uma intentona a ti. Recusaste um convite com segundas intenções mais ou menos evidentes que detectaste e deflectiste.
Sim, o leite com chocolate às quatro da manhã põe-me bastante palavroso.
No fundo as profanidades que me acordaram eram simplesmente o meu desejo de te oferecer o meu braço para te aconchegares e o meu colo para pores os pés enquanto deitada no meu sofá estudavas a lição para o dia seguinte. Este mesmo sofá onde me sento agora e ingiro o último gole de chocolate enquanto digiro o remorso de não te ter pegado logo nos lábios e colado-os aos meus como um dia outro te fará desenvergonhadamente para te levar a concretizar ponto a ponto os meus sonhos. Num outro sofá, com outra bebida.