24 de julho de 2011

Atlantis

A gravidade da solidão faz com que todos à nossa volta se aproximem. Esta gravidade, a física, a que rege e gere a atracção entre dois corpos é tanto maior quanto é a força da pessoa que, sozinha, "malabariza" as suas pessoas como de planetas se tratassem, naquelas órbitas excêntricas que tanto podem afastar como aproximar em tangentes que por vezes colidem e nos arrancam pedaços afastando-nos a nós da órbita que mantemos a alguém que por sua vez é mais forte que nós e tem o tal campo gravitacional mais intenso.
Alguém uma vez disse que somos feitos da mesma matéria das estrelas e não podia estar mais certo. Todos temos um sol. Um centro de vida. Um emissor de calor.
Por vezes, demasiadas, algumas dessas nossas estrelas morrem e cria-se um buraco negro que nos suga parte da energia mas que não nos consegue comprimir porque não nos consegue engolir. Pode até levar alguns dos nossos planetas órbitantes consigo mas a nós não.
Por isso meu amor eu posso explorar alguns planetas. Enviar uma lata com gente pequenita lá dentro para tirar umas amostras e regressar. Analisar amostras e decidir cancelar o programa espacial por falta de relevância de recursos do tal planeta onde espetaram uma bandeira do meu país.
Mas sol, meu querido sol, quando a luz baixa e a saudade aperta, quando parece que as constelações nos vão engolir vivos na escuridão, retorno a ti, para que a luz flutuante regresse e em auroras boreais me ilumine de novo como num big bang.

17 de julho de 2011

Não é sobre ti

Podia ter escrito aqui um texto que te levantasse ao espaço de todas as outras. Que te trouxesse a tantos amores que descrevo e perco por aí e aqui. Mas deixo-te estar aí onde estás e às outras, invejosas, deixo-as na ignorância de não se poderem comparar a ti. Não saberem quem és.
Ao perguntarem
- Tens alguém especial na tua vida
eu a poder responder
- Não
sabendo que minto tanto que devia ter vergonha e não conhecer nunca mais ninguém.
Acho que esgotei os meus momentos. Todas as pessoas têm uma conta aberta de momentos que lhes vão acontecer. Uns tantos morrem sem os gastar todos. Azar. Mas eu estou convencido que em trinta anos os esgotei todos e agora a minha vida vai ser sem eventos como dizem os ingleses.
É que estar sem ti faz o tempo passar na mesma. Não comer e não conduzir e não fazer praia deixa igualmente que o tempo passe. Mas não me lembrar do sabor das bolachas que fazias aos sábados de tarde ou não me lembrar do tamanho dos sapatos que compraste em Braga leva-me o dia todo. Lá fora escurece mas as horas ficam na mesma. Especialmente naqueles relógios que me ofereceste.
Eu não ia falar de ti mas falar de ti deixa que o tempo se esprema para fora de mim e já há algum tempo que de mim pouco sai sem que seja espremido. Têm de vir cá puxar e torcer para que eu dê alguma coisa.
Lembra-te de mim com ternura e generosidade porque nem de uma nem de outra as outras têm grandes sinais.