13 de maio de 2012

Residente

Nasces-me aqui, neste meu campo pessoal e tantas vezes infértil, como uma erva daninha que não pedi nem semeei e mesmo assim me surge a palpitar e agitar ao vento. A aromatizar este meu interior. Quero-te sempre assim bravia e viçosa, a dar as boas vindas no regresso a casa e muitas vezes a bater com a porta quando e sempre quando, eu mereço. Sossega pequena, sossega. Não tenho intenção de te espetar num vaso mesmo que ao lado da janela, não te quero amarrada à minha rega nem dependente da minha lembrança em te dar carinho. Quero ainda menos aparar as tuas folhas e raízes, essas artimanhas doces e sinceras com que me abraças e te fazes residente. Sabes que já te tentei arrancar daqui, que fosses para outro lado crescer noutros campos ia-me matar mas, como às andorinhas, deixava-te ir na segurança do teu regresso. Penso que tu também te tentaste arrancar daqui mas o vento não te ajudou. As chuvas não favoreceram. Aconteceram todas aquelas desculpas que impedem as mudanças que sabemos não serem benéficas. Vá, cresce lá de novo, minha mais bela das ervas daninhas, vais de novo dar cá flores, eu sei, há-de cheirar a ti em toda a cidade, pétala a pétala no vento que não te afasta mas espalha por todo o lado como as raízes que tens aqui cravadas no meu campo, que jamais conhecerá o pousio dos amores.