17 de fevereiro de 2013

Estados

Há perguntas que nem sabemos existirem. Há uns anos uma quantidade considerável de cientistas fechou-se num laboratório para responder à questão "Vidro: Liquido ou sólido?"
Esta era uma questão que me parecia de fácil resposta, os vidros estão lá, nas janelas, não se estão a escorrer para o chão. Está respondido e podiam todos regressar a casa. Mas os especialistas lá mostravam imagens de janelas de casas antigas nas quais o fundo era mais espesso que a parte superior. Defendiam que o vidro era um líquido de arrefecimento lento. Que ia assentando durante séculos até eventualmente haver um dia no qual o vidro descola da parte de cima e, de forma dramática, escorre para o chão.
Não me recordo a que conclusão chegaram os cientistas mas a mim os amores sempre foram transparentes. Nunca gostei de mulheres de vidro escuro e muito menos tinha paciência para me protegerem da luz. As janelas dos especialistas desfocavam a visão na parte mais grossa do fundo e isso também me chegaram a fazer, naqueles momentos mais pesados e difíceis de ultrapassar, certas mulheres desfocaram-me a visão e não deixaram que eu visse a realidade.
Mais do que a fragilidade e a transparência interessa-me esta inexplicação de coisas comuns e diárias. O vidro, tal como o amor, acontece-me todos os dias e não sei se o posso chamar de sólido, líquido ou gasoso. E estou a falar do meu que acorda dentro de mim todos os dias. Ao teu, que acorda aí tão longe e fora da minha cama, em manhãs nas quais os bons dias não são dados, nem sei como o qualificar. O amor parece-me tão volátil que, mesmo nestes tantos anos que passaram, de líquido só temos lágrimas e de sólido só temos o abraço. Tudo o resto foi, está a ir, irá ainda desagregar-se em estado gasoso levado com a brisa sem ser certo que um dia, noutro lugar, se volte a juntar numa duna de amor.

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