31 de março de 2013

On

Há uns tempos, cheguei a casa e pelo ar sentia-se aquele peso adocicado de uma fuga de gás. Tinham-me dito dias antes que num espaço fechado com ar inquinado tínhamos cerca de quatro segundos antes que uma tontura nos atirasse para o chão por falta de oxigénio então, mantendo a apneia, lá entrei em casa e abri todas as janelas que consegui encontrar para purificar o ar. Nunca me ocorreu acender uma luz ou uma chama para alumiar a rota para a limpeza.
É por isso que não me assusto com o ar perigoso e avanço firme nessa casa frondosa e simultaneamente tão aconchegada que é o teu coração, abro-lhe as janelas e as varandas, as portas das traseiras, respiradouros e postigos. Quero atear uma lareira serena em ti, quero-te trazer a luz e o calor com o tempo do carinho e devolver a luz a essa tão tua, tão minha casa. Mas antes tenho de aguardar que a purificação chegue em brisas e correntes de ar e resistir à sede tentadora das luzes imediatas que só resultam em explosões incineradoras e fugazes.
A explosão que trago comigo vai acontecer e durar como uma pira olímpica que percorre o seu árduo percurso para numa festa encher todo o mundo de inspiração. E, de tão bela, declarar-se-á que não mais se apague a chama, que se ignore o botão de On/Off e que por séculos se conte a história de como alguém trouxe ao peito oxigénio puro que entregou seguro no destino após percorrer um caminho de doçura que não pesou nada porque caminhou, correu, penou por gosto.

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