28 de fevereiro de 2010

Tristeza, cá, já e ainda é primavera

Só me apetecia chorar sabes? Apetecia-me não porque me apetecesse mas porque ninguém acreditava na minha tristeza enquanto não o fizesse. Um momento de emoção ou até só uma tremura de queixo bastaria para legitimar o momento solene. Lembro-me que quando era pequeno e o meu padrinho morreu me senti culpado porque lágrimas nem vê-las.
Sabes tristeza, não tenho tempo para ti. Às vezes bates à porta e deixas um bilhete no correio. Noutras ligas-me e eu deixo ir para voice mail. Nas vezes que chegas a entrar, habitualmente quando almoço sozinho na cozinha com o cão à espera da esmola, eu ignoro-te. Tu ali a olhar para mim como o cão, à espera de seres alimentada pela minha atenção e eu a fazer de conta. A abafar a tua presença com telejornal, jazz e planos acerca da sobremesa.
Ó tristeza quem dera que chorasse para que as pessoas lá no trabalho não murmurassem na Segunda-Feira que nada me atinge, que sorria como se nada se passasse e que não me importo por nada. Tristeza, pudesse eu ter tempo para ti ou acabasses tu com os cappuccinos feitos de café e espuma de leite, com a máquina do pão ou fulminasses os White Stripes e talvez te desse atenção e um assento ao meu lado no carro, no autocarro e à mesa nas refeições. Falaríamos imenso de banalidades e ocasionalmente desmoronariamos-nos em choros e prantos abundantes.
Agora indulgencia-me enquanto vou ali alegrar-me, por favor, não te quero entristecer mas nestes vinte e tal anos já te dei tanto e tu nada em troca.

Sem comentários:

Enviar um comentário