9 de maio de 2010

Janelinha

Já vi vários nomes para aquele buraco da porta por onde se espreita para ver as pessoas que nos batem à porta mas de todos janelinha parece-me ser o mais indicado. A tal janelinha foi desaparecendo porque quase todos vivemos agora em prédios ou moradias com aquele aparelho que empalidece e descolora as pessoas que nos pedem para entrar. Uma porcaria de um telefone de parede que nem sequer mostra cores e que solta um som de tiro sempre que abrimos a porta à tal pessoa que quer entrar. Nunca usei um desses aparelhos porque à frente da minha casa tem um estabelecimento com vidros espelhados que me deixam ver quem me pede para entrar.
E gosto tanto da ideia da janelinha que, ao tirar fotografias, nunca olho para a imagem electrónica em lcd plasmado de não sei quantas polegadas e em vez disso espreito pela janelinha que com umas linhas finas faz um quadrado que enquadra quem eu quero aprisionar. Eu que nunca fui fotografado em condições tiro retratos incríveis porque ninguém está à espera que fotografe. Ao olhar pela janelinha julgam que estou a brincar e não têm tempo de posar um sorriso. A mim nunca fizeram este favor. A mim tiram-me fotos usando aquela luz laranja que nos avisa que vem aí uma foto de flash. Eu, que a posar fico sempre um centímetro pior.
A mim atendem-me sempre com o tal aparelho que desbota e descolora e mal consigo perceber o que me perguntam. Se eu te atirar uma pedrinha para a janelinha prometes não te assustar e abrires-me a porta?
Levo cores comigo, prometo.

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