15 de junho de 2014

No banco

Faz anos que em Madrid me sentei a ver um bando de rapazes e algumas raparigas voar em patins em linha. Os tipos colocavam uns tantos copinhos de café de plástico no chão como percurso de slalom e lá seguiam acima e abaixo das formas mais criativas e dançarinas sem tocar nos ditos copinhos. Eu estava sentado no banco daquele parque à frente de um teatro, sem nada marcado ou planeado nem ninguém que me esperasse noutro local que não aquele. Eu era um anónimo que à época mal se conseguiria ter de pé nuns patins, quanto mais dançaricar entre obstáculos. 
Aqui sentado agora ao computador, sem ninguém à minha espera em lado nenhum, dificilmente me consigo emocionar como naquele dia. Nestes quase três anos que passaram tenho-me sentado muito menos em parques a ver talentos jovens, não dou tantas moedas a artistas de rua, não reparo tanto na poesia stencilada da neo-delinquência sublime. Dou por mim ocasionalmente feliz, abençoado por ter muita sorte e o orgulho dos olhos mais bonitos do mundo a sorrir quando postos nos meus.
Ainda assim tenho saudade da dor de barriga de não saber nada, de estar perante o assombro de ter uma noite em branco sem nada planeado, tenho saudade de fazer coisas admiráveis e que me pasmam com a minha coragem. Descobrir que há coisas aqui em mim que precisei de tanto tempo para descobrir e fazer emergir.
Armado dos teus olhos, a voar nos teus braços, vai ser tudo muito mais fácil mas conto ter-te no banco a olhar-me. Não quero que sejas as minhas rodas de patim. Acredita que é um favor que te faço ao te querer só assistência. Quando me aplaudires, dou-te um abraço e vamos para casa porque amanhã trabalhamos.

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