7 de setembro de 2014

Alfarrabista

Queria tanto ser um editor de coisas novas. Encontrar novas escritoras, novas obras com novas personagens onde colocar novas capas para adornar as prateleiras que trago em mim. Adorava ter novos enredos policiais e novas esperanças amorosas para encher os sábados chuvosos de sol esperançoso. Gostava de ter novas ficções e novas biografias.
Julgo que não consigo ser assim como queria e encontrar na novidade algo melhor do que ficou para trás em obras já lidas e aventuras já vividas. Sou um alfarrabista de amores que compila os falhanços em páginas amarelecidas a criar bicho. Às vezes entra-me uma freguesa na loja e tenta trocar um livro lustroso a cheirar a tinta e papel branco mas raramente passa da porta. Sou avesso à troca.
Claro que, como nos livros que guardo, um dia tinhas tu de me bater à porta a trazer o teu próprio livro amarelo não para trocar mas para partilhar. Aparentemente nos livros mais antigos há uma duzia de páginas por escrever onde se podem tirar notas ou, espero eu, escrever um último capítulo onde se salva a donzela, se matam os maus, e seguem os heróis felizes para sempre.
Para ti tenho sempre uma porta aberta e o marcador de livros na página mais fresca, mais pronta. Para ti, não o lápis fragilmente apagável, mas a tinta permanente da minha caneta mais ornada, aquela que estava na gaveta à espera de mãos firmes como as tuas com essa pele que me faz sorrir e chorar e que bebia de um só trago se pudesse.

Sem comentários:

Enviar um comentário