16 de novembro de 2014

Verão em Novembro

Quando um dia tu me leres e já nada importar o que eu te escrevo, saberás que foi difícil manter-me por perto quando todos os polos se repeliam, quando os meus astros invertiam a gravidade e me cuspiam para longe de ti, minha estrela, meu asteroide, minha força final e extintora. Ficarás a saber também que acreditei até ao fim, como numa missão que só eu sei como resolver, se o fim chegou e depois do fim tu descobriste a garrafa de vidro onde deixo estes textos para leres se a maré vagar de feição.
Se um dia nos extinguirmos e nada ficar além de bacterias, ficam os poemas que te li e os que ouvi a desejar dedicar-te, escritos por gente já morta e ainda viva que sem te conhecer falava de ti com tanta verdade como se fossem teus amantes.
No dia em que leres isto, anos após a nossa separação ou quando o nosso segundo filho fizer oito anos, vais saber que todas as horas e orientações de que precisei sairam da tua mão, da incerteza do teu toque na extensão medrosa dos teus dedos nos meus. Saberás que era no rápido abraço que as aves migravam no nosso calor e no beijo furtivo que badaladas vibravam quem sabe do outro lado do mundo.
Quando tivermos a idade das recordações, para o bem ou para o mal, abraçados ou fatalmente desavindos, ficas a saber que hoje tenho saudades tuas e era tão suficiente vires cá a casa fazer amor comigo duas vezes antes de jantar, sorrires numa sesta e dares-me a mão antes da vulgaridade do nosso amor encandear a rua e o jardim até que as aves voltassem neste Verão em Novembro.

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