23 de novembro de 2014

Mau Tempo

Há mulheres de quem se fala em murmúrio. Há mulheres de quem nem se fala não fosse essa materialização em palavras conjurar imediatamente a sua presença ou uma agitação coronária, uma comoção cerebral ou uma morte tão rápida que nem desse tempo para ais de alerta. Há mulheres quentes para as quais ainda falta inventar um tecido protector ou um gel curativo, há mulheres frias que deixavam neves eternas aqui em casa e em mim se eu falasse delas.
Daí minha única tempestade, meu terramoto, minha peste florida, eu nunca falar de ti. É medo, triste e pesaroso por não te partilhar. Não queria que ficasses cá fechada mas se te deixar voar explodes comigo e com este ninho fortificado onde te seguro. Só escrevo sobre ti porque as palavras são o meu território e nelas consigo conter-te como numa pequena cadeia, uma teia de aranha onde te posso guardar para mais tarde, num dia de mais coragem, te consumir e fazer-te meu sustento.
Nesse teu cabelo de fios leves, nesses lábios onde desenhas os ventos suaves da tua música há mais vida do que a que eu posso viver num século. No ar suave que te abandona a cada palavra há açucar suficiente para arruinar uma sanidade, duas vidas e três familias. Andam a escrever livros e a compor músicas, fotografias e pinturas à tua procura. És o rochedo que já nasceu esculpido e que não dá para facetar com mais limpidez. Tens em ti o calor do mundo, um vulcão que me assola de lava e me constroi uma montanha no peito expelindo rochas para todo o lado. Sou a traça que voa para a perdição luminosa, incinerado pela tua luz e pelo desejo de morrer num segundo dentro de ti.

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