26 de fevereiro de 2012

Dessaturação

Ando para comprar um cachecol laranja há meses. Mais de um ano talvez. Sou daquelas pessoas que acreditam no poder da cor para nos salvar a boa disposição e por isso mesmo só quem não me conhecia achou estranho ter namorado umas semanas com uma daquelas neo-hippies que fazem balões de sabão do tamanho de adultos na maior avenida da minha cidade. A roupa dela, a pele dela, até os olhos dela, de uma cor mais viva do que eu alguma vez tive ou conheci. Toda ela era vermelhos e laranjas e quando se cansou do meu cinza foi com a dessaturação da previsibilidade que a vi ir em direcção a novos caminhos de errante, numa avenida mais longa e mais recta que esta da minha cidade.
Falaram-me de verdes e azuis criativos mas foi no laranja que coloquei o meu objectivo. Ela, a artista de rua como gostava de ser chamada, não se deixava enganar e dizia-me
-A tua sala precisa de uma parede laranja
enquanto eu a tentava convencer que ter móveis de duas cores já era cor que bastasse. Na sala, como em mim, a roupa nunca pode ter mais de duas cores e essas são muitas vezes uma parte branca para uma parte preta. A sala precisava de uma parede laranja e já a teve precisamente no dia em que ela partiu com o pré aviso de uma chamada e sem chegar a ver a minha pintura apressada. Percebi então que eu também preciso da minha faixa laranja mesmo que ela não esteja cá para ver.
Ando hà meses para comprar um cachecol laranja, já disse, para trazer a cor que ela deixou, quase sem querer, na minha casa.

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