11 de março de 2012

À minha duna

O meu melhor só me surgia quando estava triste. Era um facto tão meu quanto o meu nome que nos momentos de maior amargura a fertilidade de palavras aumentava, as ideias deixavam os meus dedos e marcavam as folhas daquele papel especial que o meu caderno tinha.
Depois vieste e mostraste-me que também com felicidade se consegue ser normal e caloroso. Contigo aprendi que a fertilidade depende das horas de sol que se coloca na face, nos braços e nos dedos. As minhas palavras saíam luminosas porque tu raiavas em mim com essa tua bondade e generosidade. Os meus dedos como folhas de um girassol a seguirem-te. Mas como é típico de todos os sois, e mesmo neste ano de chuvas ausentes, lá te escondeste e segues escondida sem aquecer as minhas palavras.
Sem ti como vão elas crescer?
Agora, já não me lembro do que era ser triste mas também já não te consigo apontar no calendário quando foi a última vez que sorri. Estou aqui sem tristeza e sem felicidade e sem as minhas palavras.
Estou sem ti.
Vou encher estes buracos que as coisas que me fazem falta deixaram com sono e palavras de outros, com passeios avulsos e o espanto dos dias que nascem sem que eu lhes peça. O buraco que deixaste, aquele maior e mais saliente (e do qual não falo a ninguém) fica aqui à espera que regresses com o vento como uma duna que demora a chegar mas que se ergue com calor e solidez. Se voltasses e te agregasses no meu peito criavas um processo contrário à erosão e fechavas o tal buraco com uma pedra rubra qualquer que me devolveria as palavras que tanta falta me fazem.
Tu, a minha duna!

Estas colocadas acima eram as últimas palavras que sabia escrever e tinha aqui reservadas para uma urgência, lê como se fossem sussurradas, preciosas como uma velharia, amostras de fragilidade e resiliência.
Guardei as minhas últimas palavras para ti, e que tal se voltasses?

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