30 de março de 2014

Sal

Para te louvar, para todos saberem que há uma pessoa como tu cá, neste planeta, debaixo destas regras dos mortais e num país com alguma montanha e alguma planície, desenho palavras e começo a deslizar em adjectivos e comparações para chegar ao tracejado do teu cabelo, para demonstrar a aquosa liquidez dos teus olhos e para fazer-te chegar a quem nunca te viu e não sabe quem tu és.
Nos sofás onde nos demolimos, derrubamos a parede da farsa e da pouca circulação do ar, vem a mim a amendoada brisa do teu hálito nesta admiração próxima, terna e parece que lá fora faz sol de novo e há aves que acordam mais cedo. No pasmo de não saber o futuro e de que temas vamos falar amanhã guardo a mais pródiga certeza de ir sorrir, sorrir muito, com aquele sorriso de quem não tapa os dentes com vergonha e dá ao mundo a atenção que este só por vezes merece.
Se pudesse enchia-me do teu ar, se pudesse mergulhava em ti e deixava-te preencher-me e nunca mais secava. Nem ao sol, nem ao sal. 
Mas é isto ser teu, a reserva de tempo destemida, o saber que há janelas onde circularemos livres até ao sofá, a entrar por esta só-nossa juventude a escrever correspondência solar e a assinar:


Teu,

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