9 de agosto de 2009

Um dia morro de vez

Esta semana discutia com uma colega de trabalho como acho que a crença na alma indestrutível não passa de medo de morrer. Medo do final mais redutor. De num segundo haver e no outro não.
Ela não concordou... Não só acredita na alma como não vê a morte como o fim. Eu aceitei porque nem ela ia passar a ser do meu clube nem eu ia ser seduzido pelo dela.
De facto penso que a morte é um fim. Como se tivéssemos uma ligação à electricidade e ela deixasse de chegar ao fio. Alguém a dizer
- É geral
em vez de
- Foi só o fusível do corredor
E olho assim para a vida com a certeza que ela acabará e pronto, sem a angústia que, por exemplo, a Amália tinha quando dizia em privado que não percebia a piada de viver se se tinha de morrer.
Eu não quero morrer, note-se, não para já, mas aceito que num dia mais curto do que os outros me vou de vez. Deixo algumas coisas feitas que, como toda a gente, em tantas voltas que o planeta dará se vão apagar de importância, memória e registo.
Quando todos os meus familiares, amigos e amores me acompanharem em morte há aquele pedaço de memória que guardavam de mim que acaba.
E isso não me preocupa nem um bocadinho.
Há aquele triptico de objectivos que alguém disse ser a condição sine qua non para uma existência útil no planeta.
Ter um filho
Plantar uma árvore
Escrever um livro
Ainda não cumpri nenhuma das três portanto morrer agora era um desperdício. Para mim e para o mundo. Mas já sei como é que se fazem filhos e como é divertido ir treinando o lado recreativo da coisa antes que o apelo do lado reprodutivo chegue, ainda não plantei uma árvore mas já ofereci algumas plantas que, por terem sido dadas com carinho, floresceram mesmo depois de terem perdido a ligação à terra.
Livro? Não. Ainda não escrevi um livro. Mas já escrevi algumas cartas em papel e à mão que, todas juntas, chegavam para uma antologia de mim e delas, as que receberam as cartas.
Somos energia e moléculas, peças que agregadas fazem a força que nos move. Ao morrer a energia acaba e as moléculas separam-se.
E o paraíso é o que fizemos da terra enquanto cá andamos, durante o tempo que estivemos a agir sobre a energia e as moléculas dos outros.

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